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Arcoverde,19/04/2024

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Por que Flórida se tornou novo epicentro da batalha pelo direito ao aborto nos EUA

g1.globo.com
Por que Flórida se tornou novo epicentro da batalha pelo direito ao aborto nos EUA


A Suprema Corte do estado emitiu duas decisões relacionadas ao aborto com consequências conflitantes nesta semana. Justiça abriu caminho para que lei que proíbe o aborto a partir de seis semanas de gestação entre em vigor em maio
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A Suprema Corte do estado da Flórida, nos Estados Unidos, emitiu duas decisões relacionadas ao aborto na segunda-feira (1/4), com consequências conflitantes.
Primeiro, o tribunal confirmou o direito do estado de proibir o aborto, abrindo caminho para que uma lei que proíbe o procedimento a partir de seis semanas de gestação entre em vigor em 1° de maio.
A proibição quase total vai impedir praticamente todo o acesso ao aborto na região Sul dos EUA, onde a Flórida tem sido uma espécie de refúgio para quem quer realizar o procedimento, rodeada por estados que já implementaram a proibição total ou a partir de seis semanas de gestação.
A decisão foi aplaudida por ativistas nacionais antiaborto, muitos dos quais veem a proibição a partir de seis semanas de gestação como o padrão-ouro para a política em relação ao aborto. A decisão é uma “vitória para os nascituros”, disse Katie Daniel, diretora de políticas da organização Susan B Anthony Pro-Life America na Flórida.
Mas, com um placar de quatro votos a três, os juízes também aprovaram a realização de um plebiscito, durante as eleições presidenciais em novembro, que pode reverter a proibição do procedimento a partir de seis semanas — e consagrar o amplo acesso ao aborto na Constituição do estado.
As decisões da Justiça colocaram o estado sob os holofotes políticos — e no epicentro do que talvez seja a batalha pelo direito ao aborto mais tensa desde que a Suprema Corte dos EUA derrubou a histórica decisão Roe x Wade em junho de 2022.
A proibição do procedimento a partir de seis semanas de gestação na Flórida — o terceiro estado mais populoso do país — pode afetar mais mulheres do que qualquer outra proibição estadual implementada desde a revogação de Roe x Wade.
Pouco mais de 84 mil mulheres fizeram aborto na Flórida no ano passado, de acordo com dados estaduais. Segundo o grupo de pesquisa pró-escolha do Instituto Guttmacher, este número apresentou um salto de 12% em relação a 2020, que os pesquisadores atribuem principalmente a pacientes de fora do estado.
“O aborto é uma oportunidade para os democratas e continua a ser um problema para os republicanos”, afirma estrategista
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Alguns legisladores da Flórida, muitos dos quais votaram a favor da proibição do aborto a partir de seis semanas de gestação no ano passado, consideraram a lei um meio-termo, acrescentando que inclui exceções para casos que envolvam estupro, incesto, anomalias e quando a vida da mãe está em perigo.
Mas os ativistas pelo direito ao aborto alertam que, mesmo com essas exceções, a proibição rigorosa do aborto pode colocar em risco a saúde das mulheres, citando casos envolvendo complicações na gravidez em estados como o Texas.
E, de acordo com eles, a lei de seis semanas da Flórida é particularmente restritiva, exigindo que as pacientes em busca de aborto tenham duas consultas médicas presenciais com um intervalo de 24 horas entre elas.
“Com seis semanas, a maioria das mulheres nem sequer tem ideia de que está grávida”, observa Anna Hochkammer, diretora executiva do grupo pró-escolha Florida Women's Freedom Coalition.
"Uma crise gigantesca de saúde está prestes a se abater sobre nós."
O novo cenário para o aborto na Flórida também tem consequências políticas significativas. O plebiscito de novembro, dizem os especialistas, deu aos democratas a oportunidade de chamar a atenção para uma questão na qual eles têm uma vantagem eleitoral comprovada.
Nos quase dois anos desde que a decisão Roe x Wade foi derrubada, os ativistas pelo direito ao aborto venceram todas as sete consultas populares relacionadas ao aborto, mesmo em estados liderados por republicanos. E o apoio popular sustentado ao acesso ao aborto tem ajudado os democratas a melhorar seu desempenho nas disputas estaduais e nacionais.
“O aborto é uma oportunidade para os democratas, e continua a ser um problema para os republicanos”, afirmou o estrategista republicano Kevin Madden, que foi porta-voz das campanhas presidenciais de Mitt Romney, senador por Utah.
"Isso dá a eles [democratas] um certo empurrão."
Os democratas já se mexeram para aproveitar essa vantagem na Flórida.
Na terça-feira, um dia após as decisões sobre o aborto, os principais legisladores da Câmara dos EUA convocaram uma audiência especial no estado, que o líder da minoria da Câmara, Hakeem Jeffries, chamou de “marco zero” para o acesso ao aborto.
Horas depois, em uma conferência com jornalistas, a gerente de campanha do presidente Joe Biden, Julie Chávez Rodríguez, disse o mesmo, enquanto tentava vincular a proibição na Flórida ao ex-presidente Donald Trump, o candidato republicano.
Trump “é diretamente culpado”, declarou Chávez Rodríguez.
“Por causa de Donald Trump, os republicanos Maga [uma referência ao slogan de campanha de Trump, Make America Great Again — 'Torne a América grande novamente'] em todo este país estão acabando com o acesso aos cuidados de saúde reprodutiva.”
Ativistas pelo direito ao aborto alertam que proibição rigorosa pode colocar em risco a saúde das mulheres
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E Chávez Rodríguez foi mais além, sugerindo que a batalha sobre o direito ao aborto na Flórida poderia ajudar a influenciar a disputa eleitoral, dando aos democratas uma oportunidade de lutar para virar o jogo no estado em novembro.
“Definitivamente vemos que a Flórida está em jogo”, disse ela. "Estamos cientes de como é difícil vencer na Flórida... Mas também sabemos que Trump não tem a vitória no estado garantida."
Poucas pessoas acreditam que essas decisões judiciais vão realmente influenciar a disputa presidencial na Flórida — reduto republicano há mais de uma década. Mas os especialistas dizem que há de fato agora uma abertura para os democratas, mais uma vez, melhorarem seu desempenho e potencialmente virarem o jogo em algumas corridas eleitorais, incluindo algumas disputas acirradas para a Câmara e o Senado.
O estrategista democrata veterano Simon Rosenberg afirmou que a votação sobre o aborto traria "enormes quantidades de dinheiro, voluntários e energia para o lado pró-escolha, o que muda a política no estado".
“De repente, o que sabíamos sobre a Flórida em 2024 ficou incerto”, acrescentou.
“A proibição do aborto a partir de seis semanas de gestação é ir longe demais para a população da Flórida, as pesquisas sobre isso são bastante claras”.
As primeiras pesquisas sobre o plebiscito em si, apelidado de Emenda 4, contam uma história semelhante, indicando que mais de 60% dos habitantes da Flórida apoiam a emenda.
Mas, qualquer que seja o resultado da votação de novembro, a Flórida vai passar os próximos meses convivendo com a proibição do aborto a partir de seis semanas de gestação.
As mulheres que buscarem o procedimento nesse período vão precisar viajar várias horas e dois estados ao norte, até a Carolina do Norte, que ainda permite a realização do procedimento até 12 semanas de gestação. Depois, a opção mais próxima é o sul da Virgínia — a quase 1.400 quilômetros do extremo sul da Flórida, o equivalente a um viagem de 14 horas de carro, só de ida.




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